28 de junho de 2006

A caixa negra...

As escolas, ao contrário do que sucede com uma grande parte das instituições que prestam serviço público, não permitem à grande maioria dos cidadãos compreender as dificuldades e propor soluções para os seus problemas. Não são as visitas fugazes dos [poucos] encarregados de educação que se deslocam à escola para tomar conhecimento do percurso escolar dos seus educandos, nem as visitas ainda mais esporádicas dos inspectores [que se dedicam a observar resmas e mais resmas de documentos, mais ou menos folclóricos, que nem de perto nem de longe traduzem a qualidade das práticas educativas] permitem aferir a qualidade dos serviços que aí se prestam. As representações da escola de quem não a vive quotidianamente derivam das opiniões de terceiros: dos alunos, professores e auxiliares da acção educativa [classe profissional em vias de extinção devido ao alargamento do conteúdo funcional do professor], e das memórias que ainda resistem ao tempo dos bancos de escola.

A abertura da escola à comunidade foi uma metáfora criada com o intuito de enfeitar discursos oficiais mas que nunca passou disso mesmo, isto é, sempre foi um simples roteiro de intenções.
A ideia da escola a tempo inteiro mantendo os pais afastados o tempo todo e a ideia peregrina de procurar desresponsabilizar os encarregados de educação pelo acompanhamento dos trabalhos escolares, foram duas medidas que marcaram, definitivamente, uma ruptura no discurso da escola aberta e, principalmente, alargaram o fosso que separa a escola da comunidade que serve. Se o ME não deseja essa abertura, se os encarregados de educação não sentem a necessidade de participar na escola, o que poderá fazer a restante escola para envolver os cidadãos nas actividades escolares?

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