22 de abril de 2006

Fóruns da treta…

O fórum “Ensino Secundário em Debate” é uma iniciativa da Direcção-Geral de Inovação e de Desenvolvimento Curricular. No momento em que escrevo esta entrada estão inscritos 240 participantes, distribuídos por 71 temas de discussão, e a entrada mais concorrida mereceu apenas 23 comentários [uma média de 3 comentários por assunto]. Os temas incidem preferencialmente nas questões relacionadas com os exames, acesso ao ensino superior, exames, cálculo de médias de exames, exames desta ou daquela disciplina e mais exames. As preocupações com o ensino superior reflectem, por um lado, um determinado perfil de participante no fórum [encarregados de educação e professores de alunos orientados para o prosseguimento de estudos], e por outro, um evidente desinteresse pelos cursos tecnológicos. É sobre este desinteresse que me ocupo.

Os cursos tecnológicos são, efectivamente, o refugo do ensino secundário. Acompanho com bastante proximidade uma turma de alunos de um curso tecnológico e não encontro um aluno, um apenas, que não deseje prosseguir estudos. Paradoxalmente, não encontro um aluno que projecte no curso tecnológico um ingresso para uma profissão. São raros os casos [obviamente que me reporto a alunos do ensino secundário] em que a saída de um aluno do sistema escolar é concretizada por iniciativa própria. O que eu encontro são muitas saídas compulsivas desencadeadas pela intervenção [tardia?] dos encarregados de educação que desesperam quando tomam consciência que os seus educandos vagueiam sem norte no sistema educativo.

Os cursos tecnológicos sofrem de um problema intransponível: não são vocacionados para a formação profissional [e concorrem com as escolas profissionais que estão melhor apetrechadas e recebem os alunos mais motivados para a saída profissional] e não são vocacionados para o prosseguimento de estudos [porque limitam o acesso dos alunos a determinados cursos do ensino superior]. É o tal refugo que dava conta mais em cima.

Mas voltemos ao fórum. Como instrumento de aferição dos problemas de aplicabilidade de uma dada reforma ele é muito débil por três razões principais: Pelo reduzido número de participantes que mobiliza, pelo deficiente alcance da tecnologia utilizada que ainda é inacessível a um elevado número de interessados pelo processo educativo, pela falta de visibilidade nas comunidades educativas. É um facto que o ME tem realizado [poucos] encontros através das direcções regionais de educação com alguns professores e representantes dos conselhos executivos. É um facto que as estruturas intermédias do ME são pouco eficientes porque são pesadas e pouco ágeis na relação com as escolas. É um facto que as lógicas burocráticas atrasam os processos de mudança. Por tudo isto e sabendo de tudo isto, o ME terá de desconfiar das auscultações que faz e das aferições que resultam dos processos que ele próprio engendra. Por tudo isto, e enquanto não ocorrer um SIMPLEX na educação [tem direitos de autor esta expressão], o ME estará condenado a um “autismo endógeno”.

Que triste sina!

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