16 de setembro de 2004

Uma conversa na outra margem...

Ando, literalmente, às voltas com a planificação de um novo curso tecnológico.
Esta reorganização curricular do ensino secundário não cuidou atempadamente de informar, esclarecer, enfim, preparar as pessoas e criar as condições para os efeitos da mudança.
Os encarregados de educação, alunos, docentes, órgãos de gestão, no fundo os principais actores da reorganização curricular estão arredados de toda esta problemática. É um assunto demasiado sério quando confrontado com o estado actual de fingimento em que mergulhou o sistema educativo.
O país anda preocupado. As escolas não estão em condições de guardar os alunos. É que estes novos armazéns de pessoas só adquirem o nobre estatuto de escolas na presença de docentes. Malogradamente para alguns, ainda não foi possível extinguir os professores do sistema educativo.
Quando o disfarce estiver completo, isto é, quando os professores estiverem colocados nos seus receptáculos de trabalho, os pais descansarão, os responsáveis pela anarquia respirarão de alívio e a imprensa calar-se-á.
Voltando um pouco atrás, aproveito esta aparente estabilidade profissional para fazer um trabalho que será reeditado por todos os colegas que, neste momento, sofrem os efeitos da irresponsabilidade de um governo oco. As escolas deixarão de ser um problema para o país até à época de exames e ao próximo concurso de docentes. Emergirão outros problemas que só serão discutidos intra-muros, nomeadamente, a nova revolução operada pela redefinição dos cursos tecnológicos do ensino secundário. Através do confronto das vantagens de frequência num curso tecnológico e de um curso científico-humanístico há um claro benefício do primeiro. Os alunos dos cursos tecnológicos para além da creditação profissional poderão garantir o acesso ao ensino superior como os seus colegas que frequentam um curso científico-humanístico. A questão que eu coloco é a seguinte:
Num quadro em que o mercado de trabalho e o prosseguimento de estudos dão o sentido ao ensino secundário, porque é que não se acabam com os cursos científico-humanísticos?

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