29 de dezembro de 2005

Atados

A comunicação social dá conta de uma medida legislativa que forçará as escolas do ensino básico e secundário "a elaborar um plano anual de actividades para as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) para promover o uso dos computadores e da Internet junto de professores e alunos".

É verdade que nos últimos anos tem havido um enorme esforço financeiro para apetrechar as escolas de meios informáticos. Ainda não temos motivos para embandeirar em arco, mas os progressos revelados pelas estatísticas são inequívocos.
É verdade que as escolas têm mais computadores. Isso não significa que não subsistam problemas de manutenção das máquinas, que o índice de utilização seja pequeno, nem tão-pouco, que o número de computadores ligados à rede por professor [um computador por cada 70 professores?] seja reduzido.
É verdade que a ministra da educação parece estar sensível às carências das escolas [e que bom seria se as dificuldades se limitassem à falta de computadores…] e já deixou claro que a intenção do governo, ainda nesta legislatura, passará pela reabilitação do parque escolar.

São algumas verdades que pintam de cinzento um quadro negro. Melhorar as péssimas condições de trabalho dos alunos e dos professores é louvável. Mas não chega. E francamente, não encontro motivos para grandes festejos. Nem a velha forma escolar será beliscada com mais tecnologia e com as paredes pintadas, nem a mesma organização escolar sofrerá qualquer fractura. Mas isto é conversa para outra oportunidade. O que está aqui em discussão é um despacho que revela um centralismo sufocante e castrador que tem marcado a relação que o ME quer estabelecer com as escolas. Apetece perguntar: e agora? Qual é o passo seguinte?
A meu ver, este tipo de intervenção favorece a desresponsabilização das escolas na medida em que o que deve ser feito não pode ser sempre antevisto pela tutela, e coarcta a iniciativa dos actores locais que se limitam a esperar por uma nova orientação.

Despachos deste tipo devem ser evitados porque são redundantes. As escolas são obrigadas a realizar planos de formação e planos de actividades subordinados ao projecto educativo. Se estes documentos são alegóricos porque emergem de um formalismo bacoco então o melhor é procurar as causas da subversão ao invés de incrementar ainda mais a burocracia.
Propostas?
Se a tutela duvidar da capacidade das escolas em definir o crédito global de horas, seria prudente acompanhar de perto [as visitas relâmpago da IGE são inócuas] o desenvolvimento do projecto educativo e a concretização do plano de actividades.

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