23 de fevereiro de 2005

A escola transfigurada.

Existe um consenso generalizado quanto à caracterização da escola actual [creio que este comentário do Paulo, colocado numa entrada mais em baixo, se encaixa neste empreendimento]: “Não se pode conceber uma escola que celebre a pseudo-diversidade em momentos "extra" ainda que na sala de aula e que escamoteie aquilo que é (infelizmente) visível fora dela: a nossa sociedade e o modo como ela está, as injustiças, as discriminações causadas também pela globalização […]. A escola cultural [creio que se refere à escola actual] faz de conta que isto não existe, que, ingenuamente, a escolaridade irá causar uma "normal" integração do aluno na sociedade. É elitista porque pensa as diferentes culturas numa base de um "aluno-médio". Concordo que a escola que temos é insatisfatória, em todos os seus níveis. Há que dar oportunidade a uma outra escola, à escola cultural, que é a escola reconhecida, ainda que de forma implícita, na própria Lei de Bases.
As críticas que se consubstanciam na inexequibilidade da escola cultural e que decorrem de experiências concretas que se afastaram do movimento da escola cultural podem ser refutadas com outros exemplos de sucesso [ver Hélder Pacheco. “Um património comum”, in O Professor, nº 124. Lisboa, Outubro de 1989, p.47]. Os testemunhos pessoais valem muito mas não valem tudo. Será preferível perceber como é que as condições básicas que foram requeridas para a implementação da reforma foram contrariadas pelo curso do tempo.
Recordo que no momento em que a escola cultural iniciou o seu “movimento” houve uma intenção de mobilizar o País para a Educação e creio que, nesse período, ninguém ficou indiferente aos problemas da educação. A segunda condição básica da reforma foi a necessidade de aumentar o esforço financeiro com a educação: Na verdade isso aconteceu, no entanto, a questão da qualidade do investimento foi negligenciada. A terceira condição da reforma foi a necessidade de adoptar uma lógica reformadora pedagógica. O que aconteceu foi a adopção de uma lógica reformadora burocrática. A quarta condição básica da reforma foi a necessidade de se optar por uma de duas lógicas políticas: a do imediato e a de longo prazo. A lógica da educação é a de longo prazo. O que ocorreu foi o sacrificar o longo prazo [desenvolvimento e modernização do País, a elevação significativa do nível cultural e educativo da população, etc., etc.,] aos interesses imediatos [políticos, sindicais, das autarquias, das empresas, etc., etc.,]. Sacrificar o mediato com o imediato inviabilizou a tentativa de reforma. A quinta condição básica da reforma não foi satisfeita: não se optou como devia por uma reforma humanista. Prevaleceu a reforma tecnocrática.

Diante este quadro, como é possível assacar à escola cultural o ónus da culpa pela inaptidão da escola em responder aos desafios colocados pela globalização?

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