10 de setembro de 2004

Exemplos que (nada) valem...

Tão importante como as impressões de uma viagem é esta possibilidade de podermos recuperar mais tarde as sensações e as ideias que dela emergiram. Ao partilharmos com os outros esses momentos é como se tivéssemos uma segunda oportunidade. É assim como eu sinto a discussão que o Manuel reeditou motivado pela efervescência dos artigos de opinião de M. F. Mónica, A. Barreto, entre outros que têm vindo a público falar da coisa educativa.
Quem entrou agora nesta carruagem em que nos encontramos talvez desconheça que esta viagem começou com uma discussão em torno da uma ideia: a recuperação da Escola Cultural como paradigma pedagógico susceptível de ser concretizado no actual figurino organizativo do sistema educativo. Procurei assinalar algumas das disfuncionalidades e paradoxos do actual sistema educativo que afastam cada vez mais a escola normativa da escola situada. (http://arcanjo.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_01.html#013814
http://arcanjo.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_01.html#014177
http://arcanjo.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_01.html#014500
http://arcanjo.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_01.html#015030
http://arcanjo.blogs.sapo.pt/arquivo/2004_01.html#015119)
Hoje continuo a deixar-me guiar pela mesma utopia mas pressinto que a educação é conduzida no sentido oposto.
Os exemplos que se afiguram nos outros países de pouco valem. Nessa medida o Manuel tem razão. Comparar, só o que pode ser comparado. O meio século de obscurantismo não justificará tudo. Mas não podemos continuar agarrados ao “daltonismo cultural” em que fomos socializados. A Sociologia da Educação ajuda-nos a perceber que o percurso histórico político e cultural de um país não pode ser decalcado.
O exemplo da Finlândia vale o que vale. Servirá para admirar, questionar, reflectir e suscitar a discussão.
Para finalizar esta conversa deixem-me introduzir um exemplo do mundo futebolístico que serve para sublinhar a finitude dos modelos. José Mourinho (para quem nunca ouviu falar, o homem foi campeão europeu de futebol na época transacta por uma equipa aqui do Norte) apareceu no meio futebolístico e num ápice desmistificou a ideia hegemónica acerca do perfil treinador de futebol. Afinal o homem como ex-praticante de nível mediano não cumpria os preceitos que lhe estavam reservados. Supostamente, o treinador de futebol teria de cumprir o seu destino. Ser um treinador de nível mediano. Nada melhor do que deixar a realidade contestar a ficção. O caricato desta questão é que muitos acreditam, porque são pessoas de fé, que o segredo do sucesso se encontra aí mesmo. Na própria fé.

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