29 de janeiro de 2006

Troca de olhares

A tertúlia é pequena mas é animada. É reconfortante observar a extraordinária participação e entrega generosa daqueles que por aqui passam e deixam rasto. O objectivo é elevado e claro: promover a reflexão sobre a actividade docente abarcando todos domínios que couber no meu entendimento.
Ao contrário do que transparece após uma leitura enviesada dos textos divulgados, não é possível extrair qualquer olhar de cátedra, tanto mais que não existe por cá nenhum depositário. É, paradoxalmente, um olhar despretensioso que marca um trajecto singular, e um olhar ambicioso, plural de sentidos, que busca novas pontas da imensa teia de experiências que enriquecem a vida na escola e fora dela.

Uma entrada pretérita navegação à vista suscitou comentários de 6 companheiros de viagem.
A actualidade e a relevância do tema ensaiado justifica o destaque e, quem sabe, novas participações:

Escreveu a Teresa Homepage 27.01.06 - 8:36 pm #
Riscos: - quando finalmente estiver construída uma auto-estrada com duas faixas de cada lado... vai constatar-se que seriam precisas pelo menos quatro em cada banda...- quando acabar esta legislatura e, se por acaso, não tiver seguimento em tom de rosa mas em tom laranja... nunca se sabe quantos despachos novos vão sair a anular os agora despachados e a despachar...Pena que não se tente gastar um bocadinho de tempo, antes de fazer seja o que for (e de governar aceleradamente por retalhos), a definir uma espécie de pacto educativo concertado, com a participação de todos os envolvidos, e, sobretudo, multicolor... E, note-se, estou a pensar nos alunos ao deixar aqui estas palavritas... Eles precisam e merecem seriedade, continuidade, uma escola excelente - seja qual for o desenho que todos em conjunto venhamos a definir como o futuro mais adequado.(Sendo, simultaneamente solidária com os professores, é claro... mas nós já cá estamos há mais tempo e lá vamos encontrando forma de nos defender das alternâncias sem desígnio, sem projecto que se veja...).

Comentário ao comentário:
... pacto educativo concertado e ainda por cima multicolor. Não sei: Só com uma boa dose de optimismo (que soará a falso) é que se acredita na prova de bom senso dos nossos representantes políticos. O que não deixa de ser absurdo é encontrar na retórica política um apelo ao consenso em torno das questões educativas e o debate político-parlamentar não dar qualquer sinal a favor desse acordo. Recordo a discussão (era ministro da educação o Dr. Justino) gerada pela “reforma” da actual LBSE e a dissonância das posições dos grupos parlamentares da época.
À falta de senso dos representantes políticos, os professores devem responder com mais envolvimento pelas questões de política educativa.
“os alunos merecem seriedade, continuidade e uma escola excelente.”
Uma escola excelente também “produz” alunos excelentes. E que aluno é esse que a escola quer produzir?

Escreveu a IC Homepage 27.01.06 - 11:18 pm #
“Quem não está apreensivo? "Antes de definirmos o perfil ocupacional do professor é necessário definirmos a escola que queremos e o seu lugar na comunidade" - pois é, e eu logo em Junho falei de carroça à frente dos bois e em Agosto estampei no meu cantinho uma carroça à frente do burro, mas depois de ouvir a Sr.ª ministra (todos ouvimos na TV)justificar a sua pressa (leia-se precipitação) porque não podia perder um ano da SUA oportunidade na legislatura, acho que o "ritmo" deste ME ficou percebido e mais preocupante ainda.”

Comentário ao comentário:
Para onde corre a ministra? Foge de quem? Do défice? Estou convencido que ainda não se apercebeu que a manta é demasiado curta e que cobrindo o seu défice acabará por destapar muitos mais.

Escreveu o Paulo 27.01.06 - 11:43 pm #
“Penso ser claro que esta ministra está demasiado preocupada com os resultados. Olha para os pés, para baixo e não para a frente de modo a não cair na maior das armadilhas: encarar a escola como uma organização gerida de modo empresarial com fins sociais. Uma anedota tendo em conta que ninguém mais sabe o que se pretende da escola (um pouco de tudo).
Uma nota: estarão os sindicatos à altura de defenderem, do ponto de vista dos direitos os professores ou continuarão a argumentar que as medidas não são pedagógicas?”


Comentário ao comentário:
Os sindicatos debatem-se com um grande problema de afirmação: não é possível discutir direitos dos professores sem precisar o que é um professor (aqui concordo com o adkalendas). Os sindicatos sabem e o ME também, que um professor desenvolve um conjunto de actividades estruturais e outras conjunturais. E neste braço de ferro que decorrerão as próximas negociações. Parece-me claro que as actividades estruturais devem prevalecer sobre as actividades conjunturais no quadro ocupacional. Por exemplo: As actividades lectivas estruturais (aulas), as actividades lectivas conjunturais (aulas de compensação, vistas de estudo,…), as actividades extralectivas estruturais (clubes escolares), as actividades extralectivas conjunturais (projectos, seminários, …), etc., etc. [E quando me refiro às aulas estou a pensar na forma como o aluno acede à aprendizagem. Não estou a pensar no espaço onde a aula tradicional decorre.]
Nós (posso generalizar?) fomos amestrados para uma escola tradicional que continua a exigir competência ao professor para as actividades estruturais (excluo aqui a participação dos clubes), um profissional absorvido por uma panóplia de actividades conjunturais. Se a ideia é reconfigurar o perfil ocupacional do professor, vamos lá: mãos à obra, mas sem rodeios! E convém que exijamos à escola e ao professor apenas o que podem dar! Não mais do que isso.
Mas atenção: Reclamar uma nova escola pode passar por exigir um novo professor (ainda estou a pensar se o “novo” deve ter ou não um sentido literal). E nesse caso, o movimento sindical terá de reconhecer a inevitabilidade da mudança.
Será que o professado deseja enfrentar uma mudança do seu conteúdo ocupacional?

Escreveu a Matilde Homepage 28.01.06 - 1:00 am #
“ Na verdade não se entende... como se pode discutir o ECD sem antes se discutir o que se quer do professor, o quer se quer da Escola?
Quando, no post anterior, se discutia a falta de uma escola de tertúlia, sinto falta e muito. Na verdade, foi algo que, infelizmente, nunca conheci, mas que considero condição para melhorar a educação.
Quando referes, Miguel, se o ME irá aproveitar a oportunidade da negociação do ECD para "promover uma discussão que ultrapasse os muros da escola e que envolva todos os agentes educativos", considero sem dúvida esse aspecto fundamental, mas eu perguntaria antes disso se essa discussão será "alargada" ao interior dos muros da escola... ou melhor, se os professores irão "alargar-se" nessa discussão, ou se simplesmente vai passar ao lado, como passa a leitura de Despachos Normativos fundamentais, orientando-se a conduta pelo que se ouve na Comunicação Social...Já o adiantei na "Teia" da Teresa... hoje estou particularmente rezingona, mas isto passa (às vezes acho que o problema é esse... o facto de "passar"...)”


Comentário ao comentário:
“a discussão será "alargada" ao interior dos muros da escola... ou melhor, se os professores irão "alargar-se" nessa discussão, ou se simplesmente vai passar ao lado, como passa a leitura de Despachos Normativos fundamentais, orientando-se a conduta pelo que se ouve na Comunicação Social...” Tenho sido uma voz crítica no interior da organização a que pertenço (aliás, a que pertencemos) pela nossa indiferença (para não dizer desprezo) face aos normativos. Sabemos que a produção legislativa neste sector é tão intensa que é inexequível a um professor acompanhar a actualidade. Mas, uma coisa é reconhecermos a nossa incapacidade para acompanhar o ritmo dos vários governos, outra coisa bem diferente é o alheamento completo. É verdade que os órgãos de gestão e administração das escolas fazem a filtragem da informação. Também não deixa de ser verdade que nem todos os colegas que desempenham estes cargos sabem interpretar correctamente o seu papel e as filtragens de informação servem outros desígnios.
Os professores não podem continuar a permitir que as regras do jogo sejam descodificadas por terceiros: órgãos de gestão, sindicatos, ou quem quer que seja.

Escreveu o adkalendas Homepage 28.01.06 - 12:24 pm #
Será que alguém confia neste Ministério da Educação?
Será que alguém confia nos actuais sindicatos?
Será que alguém confia nas orientações fornecidas por alguns estudiosos influentes (politicamente) das Ciências da Educação?
Nós não precisamos de teorias irreais, nós não precisamos de decisões políticas voluntaristas e utópicas, nós não precisamos de sindicatos que só vêem greves. Precisamos de análises realistas, avaliações concretas e soluções.Mas acima de tudo, precisamos que se entenda, de uma vez por todas, que um professor é um professor.
E ser professor não é ser pai dos alunos, nem educador de infância, nem polícia, nem...
É apenas (e já não é pouco) ser professor.
E afinal o que é ser professor. Esta é que é a questão!


Comentário ao comentário:
Se não confiamos nas pessoas que nos representam o melhor é procurarmos outras pessoas credíveis. As pessoas que lideram os governos, sindicatos, conselhos executivos, etc.,etc. submetem-se ao sufrágio. Há que procurar alternativas porque na maior parte dos casos ainda não foram esgotadas todas as possibilidades. Eu tenho a perfeito noção de que estou a reduzir o problema. Mas, antes de procurar soluções complexas é melhor esgotar as soluções mais simples. Ou não?
Se o problema não é das pessoas então reformem-se as organizações. Pois… Claro que estas organizações que nos representam são muito complexas e, porventura, irreformáveis, como dizia um amigo de tertúlia.

Escreveu o miguel sousa Homepage 28.01.06 - 11:02 pm #
Miguel para ela [ministra da educação] e para os Albertos J. Jardins que mandam nos sindicatos, ECD resume-se a direitos e a deveres, a reformas, a subidas na carreira, o resto não tem expressão....que estás à espera, vai ser mais do mesmo, só que com a agravante, vamos voltar a perder.

Comentário ao comentário:
É necessário ouvir as associações profissionais e as instituições responsáveis pela formação de professores. Há silêncios comprometedores…

Adenda: O António [Carlos] está de volta com o seu restaurado Didáctica da Invenção

Adenda II: Enquanto preparava esta entrada, o Rui juntou o seu olhar.

Escreveu o Rui Homepage 29.01.06 - 5:45 pm #
Não quero ser pessimista nem redutor, mas cá para mim, enquanto houver milhares de professores a quererem entrar nas escolas, os governos vão fazer o que lhes apetecer e o que der melhores números, ie, menos gastos financeiros e mais alunos passados. Por causa de não terem falta de professores, atender ao bem estar pedagógico destes será a última das suas preocupações, se é que a chegam a ter...

Comentário ao comentário:
A força do professorado é, paradoxalmente, a sua fraqueza. Perto de 200 mil activos empregados e alguns milhares de activos no desemprego.
Pensemos na agro-pecuária: quando a oferta de cabeças de gado é maior do que a procura, baixa o preço do gado. Será assim?

Escola aos quadradinhos...

A Tit escreveu um belo texto no seu Canto do Vento. Trata da escola unidimensional e do ensino compartimentado tradicional, que tem servido mais os interesses dos professores do que as necessidades dos alunos.

"Na escola aos quadradinhos, os alunos têm muitas gavetas na cabeça.
A gaveta da Matemática, a gaveta do Inglês, a gaveta da Língua Portuguesa...
A maior parte das gavetas não têm qualquer tipo de comunicaçao entre elas.São gavetas que muitas vezes estão cheias de papeis, mas desorganizados, o que faz com que seja difícil encontrar "aquele papelinho".
Outra vezes as gavetas estão quase vazias. Ou então têm pequenos pedaços de papel, que não fazem sentido - como se de um puzzle com muitas peças perdidas se tratasse.
As gavetas são abertas e fechadas ao longo do dia.
Muitas vezes sem uma razão verdadeiramente importante.Situações há em que acabam mesmo de deixar de se abrir.

E surgem as elevadas taxas de "gavetas encravadas"."A educação básica é um indispensável «passaporte para a vida» que faz com que os que dela beneficiam possam escolher o que pretendem fazer, possam participar na construção do futuro colectivo e continuar a aprender." (Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI)
Responde a "Escola aos Quadradinhos" a este desafio?"

27 de janeiro de 2006

Navegação à vista…

O diferendo entre os professores e o ME não tem fim anunciado. A negociação [espero que o ME reaprenda o significado de negociar] do estatuto da carreira docente (ECD), em meados de Março (?), irá manter o braço de ferro, particularmente no que concerne aos direitos e deveres dos professores.

Estamos a pouco mais de um mês do início da negociação e não se percebe se o ME irá aproveitar esta oportunidade para promover uma discussão que ultrapasse os muros da escola e que envolva todos os agentes educativos. É que a definição do conteúdo funcional do professor remete a discussão para o plano conceptual. Antes de definirmos o perfil ocupacional do professor é necessário definirmos a escola que queremos e o seu lugar na comunidade. As funções que o professor há-de desempenhar derivam de um movimento prospectivo que situe a escola num tempo vindouro.
A escola do futuro é, a meu ver, o quadro de referência para a definição das funções do professor. E que tipo de funções serão essas?
De docência?
De administração e gestão?
De investigação?
De acção social escolar?
De orientação escolar e vocacional?
De extensão educativa e de apoio à comunidade?

Estou apreensivo. Receio que este ME não tenha ritmo para acompanhar as exigências deste tempo e que a sua iniciativa bloqueie com a gestão corrente.

25 de janeiro de 2006

Todas (des)iguais…

É um universo de 120 professores mas há universos de todas as medidas... Graças à mobilidade coerciva de muitos colegas, ano após ano, há uma aragem de gente nova. E ainda bem! Alguns despedem-se para regressar mais tarde. Outros ficam, definitivamente [embora nada seja definitivo]. A acomodação é um processo interessante de se ver: Enquanto que alguns procuram desenfreadamente discernir as várias fontes de poder para se instalar por perto, outros, indiferentes a este jogo perverso, centram-se nos seus afazeres profissionais. Há sempre alguém que se mostra inconformado e protesta. Há sempre uma alma que deseja passar despercebida, sem deixar rasto de palavra. Alguns fogem como o diabo da cruz dos assuntos da escola enquanto que vão rareando os professores que apreciam uma boa conversa sobre a coisa educativa… Será esta uma escola situada?
Se exceptuarmos as inúmeras reuniões formais, é invulgar descobrir o prazer de uma pequena cavaqueira, uma simples troca de ideias alusivas à escola, um assinalar da actualidade política [educativa]. E o que dizer de uma saltada em direcção à utopia? Será que ninguém sente a falta de uma escola da tertúlia?
Tirem-me deste filme!

24 de janeiro de 2006

Política educativa…

Até ao final do corrente mês, os representantes dos professores serão eleitos para o Conselho Municipal de Educação.
Como interpretar o alheamento dos professores por esta temática?

23 de janeiro de 2006

Obras…

O meu computador está como o país: Precisa de ser formatado.
Voltarei muito brevemente!

19 de janeiro de 2006

...

O dia passou a correr. A passada era tão larga que quase não me dei conta da distância.
Sentei-me pregado ao teclado com a intenção de abordar dois assuntos que me ocuparam a atenção durante uma parte do dia. Foi sol que durou pouco! A memória foi assaltada por assuntos mais importantes e a subjectividade tomou conta de mim.
Foi aí que deixei correr a aragem…

Mestres e discípulos
Durante algum tempo ficara apreensivo. Eram uma afronta e uma ingratidão as pequenas desavenças. Por breves momentos, a irreverência era o sinal que eu teimava em não querer perceber. A rejeição não fora comemorada efusivamente! Hoje, só a distância me permite ver que a perda pode ser uma oportunidade!

"[…] O Mestre aprende com o discípulo e é modificado por esta inter-relação através de algo que, idealmente, se converte num processo de troca. O acto de dar torna-se recíproco, como nos meandros do amor. No dizer de Paul Celan: «Sou mais eu quando sou tu.» Os Mestres repudiam os discípulos, considerando-os indignos ou desleais. O discípulo, por sua vez, sente que ultrapassou o Mestre e que deve rejeitá-Io de modo a assumir a sua própria identidade (Wittgenstein ordenar-lhe-á que o faça). Esta vitória sobre o Mestre, com os seus componentes psicanalíticos de rebelião edipiana, pode provocar sofrimento traumático, como acontece no adeus a Virgílio no Purgatorio, de Dante, ou em The Master of Go, de Kawabata. Ou pode constituir uma fonte de satisfação vingativa, tanto na ficção - Wagner triunfa sobre Fausto - como na realidade - Heidegger leva a melhor sobre Husserl, humilhando-o." (Steiner, G., 2003, p. 15)*

* George Steiner “As lições dos Mestres”. Ed. Gradiva.

Adenda: Reflectindo é um novo ponto de passagem. Está aqui: http://canseiras.blogspot.com/

16 de janeiro de 2006

Quando o político é decrépito…

O problema da educação é político! É, em primeiro lugar, um problema político. Entretenha-se a alterar a lente para observar os problemas da educação que encalhará, inevitavelmente, num problema político. Creio que o professorado tem descurado, ao longo das últimas décadas, a importância da política na educação e convenceu-se que, no interior das escolas, seria possível camuflar as imbecilidades e a desorientação dos nossos representantes com voluntarismos e investimentos pessoais desmedidos. Para mim é evidente que uma boa política terá de ser exequível. De boas reformas, de boas políticas sem condições de aplicabilidade, anda o mundo farto. E uma boa política é acção. Uma boa política é contagiante. E uma boa política tem de ser percebida pelos executores da política. Já que querem fazer dos professores simples operários [é como se pretendessem arquitectar uma ponte e começar a obra sem garantias de que o trabalhor entendeu a sua tarefa] certifiquem-se que o professorado entende a obra que querem edificar. Não me importo de correr o risco de defender uma tese alienante, mas não posso aceitar que os professores continuem numa cruzada de auto-flagelação motivada pelos problemas da escola. Vale a pena levantar os olhos e ver para lá dos muros da escola. Para quê? Para que os representantes políticos percebam que estamos atentos a eventuais trapaças e que não passarão incólumes.
A Isabel pergunta no comentário colocado na entrada anterior: [Para nós que andamos por cá…pela blogosfera] o que vale a pena discutir? … Talvez valha a pena discutir o que nos inquieta. Talvez… apesar de uma voz determinística me sussurrar ao ouvido dizendo: olha que quase tudo ficará na mesma. Uffa… quase tudo! E tem sido este QUASE que me tem mantido por aqui. João Paulo Serralheiro diz, e muito bem, que juntos temos que reinventar o sistema educativo…
…quem vier por bem que venha também! ;-)

Adenda: Hoje, deixei-me enredar por algum tempo. Foi um tempo de teia [http://tempodeteia.blogspot.com/]

15 de janeiro de 2006

Uma nova Página da Educação.

Ainda bem que a Isabel deixou no seu cantinho uma ligação à Pagina da Educação, um jornal que este mês comemora o 15.º ano de publicação. Aproveito esta referência para endereçar os meus sinceros agradecimentos ao seu director, o colega e jornalista João Paulo Serralheiro, extensível à sua equipa de trabalho, pela capacidade de produzir um jornal de excelência que suscita, mensalmente, uma multiplicidade de olhares sobre a educação. Bem-haja!

João Paulo Serralheiro teve uma deriva pela blogosfera que interrompeu abruptamente. Foi uma passagem efémera Rio Acima, cujo blogue continua recheado de textos que vale a pena reler. É com saudade que recordo algumas discussões interessantes que mantivemos por aqui, sobretudo porque me fazem reavivar a chama que dá mostras de afrouxar.

13 de janeiro de 2006

Blogues na educação

Um grupo de professores entusiastas da tecnologia lançou um concurso na Internet para premiar os blogues em português e espanhol que melhor usam este meio para fins educativos.”
A votação deve ser feita no blogue Os BLoPEs.

Depois de participar na votação, aproveite para lançar o seu olhar pela blogosfera. Vá com vontade de se deixar surpreender. Bom fim-de-semana.

12 de janeiro de 2006

Estabilidades

Ao tentar perceber a intenção do ME em alterar as regras do concurso do pessoal docente, confrontei-me com um argumento de peso, daqueles argumentos que são usados, normalmente, para finalizar as contendas. Refiro-me à utilização [abusiva] da expressão “anti-pedagógico(a)” que serve para tudo, até para legitimar determinadas posições “pedagogicamente” discutíveis. Ora, o que aqui está em jogo [refiro-me obviamente à alteração do modelo de colocação dos professores nas escolas] é a simplificação de um processo administrativo que se tem revelado ineficiente e oneroso. Ao agilizar a máquina burocrática, espaçando o intervalo de tempo entre concursos, o ME minimiza o desgaste que estes concursos provocam na sua imagem sem abrir mão do poder que exerce sobre as escolas.
Usando o dogma da estabilidade, o argumento “pedagógico” irrefutável, ninguém ousará questionar se a estabilidade per si é positiva para as escolas. Foi isto que fez o ME. Utilizou a seu favor o argumento da estabilidade que era usado pelos sindicatos que pretendiam forçar a abertura de um maior número de quadros na escola. Uma vez mais, o governo antecipou-se e ganhou. Causou dificuldades ao movimento sindical que, sem poder contar com o apoio da opinião pública, sabe que as suas reivindicações serão entendidas como um novo movimento corporativo porque são prejudiciais aos interesses das escolas e dos alunos. É aflitiva a incapacidade dos sindicatos e dos professores em demonstrar a incoerência das medidas do governo: ora, se a questão da estabilidade é genuína por que razão não se abrem vagas nos quadros de escola e, desse modo, se acautela, por muito mais tempo, a estabilidade do quadro docente?
A discussão em torno da questão da estabilidade não me satisfaz. Quando me dizem que é preciso estabilidade na escola eu questiono: para quê? Se a escola dos projectos e das actividades não-lectivas está a definhar, por que razão é preciso manter os mesmos professores na escola? Para uma actividade lectiva assente, invariavelmente, numa organização do trabalho na sala de aula, na classe ou na turma, direccionada para um aluno-tipo [que ninguém conhece]? Será para isto que se pretende manter os professores nas escolas por mais tempo? Será?...

11 de janeiro de 2006

Pontosnosii

Na caixa de correio entrava um e-mail de um grande amigo que me prevenia da entrada em cena de uma nova revista dedicada à coisa educativa. Obrigado, Manel pela chamada de atenção.

"estará à sua disposição na 2ª terça–feira de cada mês, com o jornal Público.
será a revista da Educação de que os professores necessitam: independente, rigorosa e intransigente com a demagogia dos poderes instituídos.

pretende dinamizar o debate das grandes questões educacionais que se colocam à sociedade, porque acredita que não há democracias fortes sem a participação dos cidadãos.

nasce para ajudar a colocar a Educação no topo das prioridades nacionais.

é uma iniciativa da Texto Editores.

Visite o nosso website
www.pontosnosii.pt "

10 de janeiro de 2006

Adenda...

.... à entrada anterior.

No jornal Público de hoje:
Insucesso escolar atinge 16 em cada 100 alunos
Isabel Leiria


Dados de 2003/2004 do Gabinete de Informação e Avaliação do Sistema Educativo mostram poucas evoluções nas taxas de aproveitamento.
No ano lectivo de 2003/2004, num universo de quase um milhão e 400 mil matriculados no ensino regular, 223.676 alunos não conseguiram transitar de ano. Ou seja, 16 por cento dos estudantes do básico e secundário chumbaram ou desistiram.São estes os últimos dados disponibilizados pelo Gabinete de Informação e Avaliação do Sistema Educativo (GIASE) relativos às taxas de aproveitamento. No essencial, confirmam que poucos progressos tem havido desde meados da década de 90. E que os anos correspondentes à transição de ciclo - 5.º, 7.º e 10.º - continuam a ser dos que mais dificuldades causam.Se em 1995/1996 a taxa de retenção no ensino básico se situava nos 13,8 por cento, oito anos mais tarde a percentagem está ainda nos 12 por cento. Ainda assim, desce pelo segundo ano consecutivo. Ao nível do ensino secundário não houve qualquer progresso. Em 1995/1996, chumbaram 33,1 por cento dos matriculados. Oito anos mais tarde e algumas oscilações depois, o insucesso chega a ser ligeiramente maior: 33,8 por cento.Dentro da escolaridade obrigatória, o nível de ensino mais problemático continua a ser o 7.º ano, com quase um quarto dos estudantes (31 mil ao todo) a ficarem retidos ou a desistir. Mas o insucesso começa logo no 2.º ano da escola (a lei não permite que haja retençõe no 1.º). Em 2003/2004, não transitaram 12,3 por cento dos alunos matriculados. O caso dos Açores destaca-se das demais regiões do país por apresentar uma taxa de retenção invulgarmente elevada: praticamente 1500 alunos num total de 3400 chumbaram no 2.º ano de escolaridade.Globalmente, a situação melhora à medida que se avança no 1.º ciclo, para voltar a piorar no início do 2.º ciclo. O aumento do número de disciplinas e de professores e a maior complexidade das matérias parecem trazer dificuldades acrescidas e o certo é que a taxa de retenção/desistência duplica de 7,8 por cento no 4.º ano para 14 por cento no 5.º. […]”


É caso para perguntar se é mera coincidência ou celeridade informativa?

8 de janeiro de 2006

O regresso às turmas de repetentes

O despacho normativo nº1/2006, esta semana publicado em Diário da República, define (um) «percurso curricular alternativo» para os alunos do ensino básico sem sucesso escolar ou com problemas de adaptação. Estes alunos vão ter turmas com currículos próprios a partir do próximo ano lectivo, definidos pelas escolas, uma medida do Ministério da Educação para combater o abandono escolar.

Esta medida legislativa suscita a discussão em torno de uma problemática que tem sido central nos discursos políticos e pedagógicos – a exclusão escolar. Nos últimos anos, a “retórica inclusiva” tem sido ineficiente na resolução dos problemas da exclusão e até seria paradoxal que a escola se transformasse no oásis inclusivo num deserto de exclusão social que marca o mundo contemporâneo. O problema da exclusão encontra-se fora e dentro da escola. E medidas legislativas avulsas dirigidas à escola serão sempre inconsequentes enquanto não coexistirem com efectivas políticas de redistribuição. Mas, de facto, a escola continua a ser um motor de exclusão. João Barroso(1) reduz, de um modo esquemático, as formas de exclusão produzidas pela escola a quatro modalidades:
A escola exclui porque não deixa entrar os que estão fora.
A escola exclui porque põe fora os que estão dentro.
A escola exclui 'incluindo'.
A escola exclui porque a inclusão deixou de fazer sentido
.”

Este despacho enferma de um mal. Ao mesmo tempo que aponta o caminho da diversidade de oferta coarcta a iniciativa comunitária ao definir uma forma de organização exclusiva: "Estes currículos destinam-se a grupos específicos, com um mínimo de dez elementos, de alunos até aos 15 anos de idade, que configurem casos de insucesso escolar repetido."

Nota de rodapé maior do que o corpo do texto: (1) […] "No primeiro caso, a exclusão está relacionada com a ‘desigualdade de oportunidades’e realiza-se através de mecanismos sobejamente conhecidos, como sejam: a influência das diferentes origens sociais dos alunos nos seus percursos escolares; a estruturação da oferta educativa em função de factores económicos, culturais e sociais; a falta de apoios diferenciados; a hierarquização dos graus, etc. No segundo caso, a exclusão está relacionada, fundamentalmente, com as questões do insucesso e abandono escolares.
Quanto às duas últimas modalidades, elas são mais subtis e não têm merecido a mesma atenção dos investigadores e cientistas da educação. No caso da "exclusão pela inclusão", o que está em causa, sobretudo, é a imposição de modelos de organização pedagógica e padrões culturais uniformes, o que agrava o desfasamento entre a oferta e a procura escolares. No caso da "exclusão pelo sentido", assistimos aos efeitos de um confronto de lógicas heterogéneas de "consumo" escolar em que muitos alunos não encontram na escola um sentido para a sua frequência, quer ao nível do saber partilhado, quer ao nível da sua utilidade social, quer ainda como quadro de vida.
Ainda que estas quatro modalidades de exclusão sejam determinadas por muitos factores exógenos à escola (políticas educativas, economia e organização social), existem factores endógenos que contribuem grandemente para a sua existência e/ou para o agravamento dos seus efeitos. Entre estes últimos, são de destacar os factores organizacionais, não só os que estão relacionados estritamente com o trabalho pedagógico, mas também os que estruturam a escola no seu conjunto, enquanto organização, e regem as relações entre os seus diferentes intervenientes (administração, professores, alunos e suas famílias)."

[Barroso, J. (2003). Factores organizacionais da exclusão escolar – A inclusão exclusiva. In: David Rodrigues (Org.), Perspectivas sobre a inclusão. pp. 25-36. Porto Editora, Porto.]

6 de janeiro de 2006

A cambalhota

"Açores: Chumbos diminuem 3,5%, anuncia Governo
Cerca de 16% dos alunos açorianos do ensino público regular chumbou no ano lectivo de 2004/2005, menos 3,5% do que no ano anterior, anunciou hoje a Direcção Regional de Educação (DRE)."


A comunicação social deu uma preciosa ajuda ao governo preparando o terreno social para que os ataques desvairados à escola e aos seus actores fossem anuídos pela opinião pública.
Será um problema meu, obviamente, mas estou com um leve pressentimento de que esta pequena notícia lançará o mote para uma cambalhota na estratégia do governo: Chegou a hora de apaparicar as escolas.

Adenda: Acrescento à lista de visitas rotineiras o blogue Diário de um professor. Bem-vindo, JP.

Avaliação de professores

Próximo concurso de docentes válido até 2008/2009
A hipótese já tinha sido admitida pelo secretário de Estado Adjunto da Educação, Jorge Pedreira, e é agora contemplada no projecto para um novo decreto-lei relativo ao recrutamento de professores, entregue anteontem aos sindicatos: o concurso para 2006/2007 terá a validade de três anos e só a partir de 2009/2010 é que passará a ser quadrienal.Significa isto que a abertura de vagas de quadro só se fará, por regra, de quatro em quatro anos, e que as colocações que daí resultarem mantêm-se obrigatoriamente válidas por esse período. Nos anos em que não há concurso, as necessidades que surgirem poderão ser preenchidas através do destacamento de profissionais integrados no sistema (mas que não têm aulas para dar ou escola atribuída) e por contratação de professores.No caso dos que já pertencem aos quadros, terão de permanecer na escola atribuída até que se realize um novo concurso. Em relação aos contratados, é admitida a renovação da colocação, por períodos de um ano, até ao limite máximo de três. Mas a escola tem de concordar.
[…]” (Público 6/01/06)

Mas a escola tem de concordar…
Quem decide/concorda? O conselho executivo ou conselho pedagógico? Quem avalia os professores? Quem define os critérios de avaliação? Que instrumentos de avaliação utilizar? Quem controla o processo de avaliação?

3 de janeiro de 2006

...

No último dia do ano faleceu o professor doutor Stephen R. Stoer, catedrático na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação do Porto, desde Novembro de 1994.

É com esta triste notícia que abro o ano.
A educação ficou mais pobre!